Olá pessoal, este post irá discutir um pouco sobre os riscos do uso indiscriminado de medicamentos na terceira idade.
Bem, primeiramente, devemos saber a diferença entre a automedicação e o uso indiscriminado (abuso) de medicamentos, pois vemos muitos artigos falando sobre automedicação, parecendo que este é o maior dos problemas em relação aos medicamentos…
Então vamos definir estes dois termos.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), “automedicação é a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, para tratamento de doenças cujos sintomas são “percebidos” pelo usuário, sem a avaliação prévia de um profissional de saúde (médico ou odontólogo).
E, o uso indiscriminado de medicamentos não se restringe somente à automedicação. Ele é mais amplo e está relacionado à “medicalização”, ou seja, uma forma de encontrar a cura para as doenças e promover o bem-estar usando exclusivamente medicamentos, o que pode levar ao consumo excessivo e constante destas substâncias.”
Este uso excessivo de medicamentos pode desenvolver várias complicações no indivíduo, dentre as quais podemos citar:
– Desenvolvimento da dependência de drogas
– Intoxicação medicamentosa
– Desenvolvimento de super bactérias
– Efeitos adversos
– Interações medicamentosas
Desenvolvimento da dependência de drogas
Partindo das definições acima, podemos pensar que o uso indiscriminado de medicamentos pode levar ao desenvolvimento da chamada “dependência de drogas”, a qual é um dos principais problemas relacionados ao abuso dos medicamentos.
Esta situação está muito presente no uso de drogas psicotrópicas (agem no sistema nervoso central), como exemplo temos os calmantes (diazepam, lorazepam, bromazepam), antidepressivos (sertralina, fluoxetina, amitriptilina), analgésicos (morfina, fentanil, meperidina), as quais as pessoas as ingerem indiscriminadamente para sentir prazer ou evitar os sintomas desagradáveis da sua retirada, a chamada “Síndrome de Abstinência”.
Quando um indivíduo se torna dependente de uma droga, ou substância química, ele faz com que o objetivo da sua vida seja a busca por esta droga. Logo, qualquer coisa que ele faça está relacionada com a procura pela droga. Na mídia, ultimamente, vemos vários casos de pessoas que vendem tudo, brigam, quebram coisas ou até matam por causa de drogas e, isso é a dependência. E, um dos fatores que podem levar a esta situação é o indivíduo começar a usar esta substância indiscriminadamente.
Está certo que na mídia vemos muitas reportagens relacionadas ao consumo de substâncias ilícitas (maconha, cocaína, crack, heroína…), mas elas não deixam de ser drogas…
E, nos medicamentos existem drogas também, que são as sustâncias que fazem o efeito desejado. A única diferença entre as drogas que estão nos medicamentos e as drogas que são abusivamente consumidas nas ruas é que as drogas dos medicamentos são lícitas, pesquisadas cientificamente para comprovar o seu efeito benéfico e com a sua dose calculada. Já as drogas que são utilizadas abusivamente não têm estudos relacionados a ela e nem dose especificada, fora que elas não são permitidas para comercialização.
Intoxicação medicamentosa
Outro problema do uso indiscriminado é a chamada Intoxicação.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “intoxicação é uma condição seguida da administração de substâncias psicoativas e resultante em distúrbios no nível de consciência, cognição, percepção, julgamento, afeto ou comportamento, ou outra resposta ou função psicofisiológica. Os distúrbios são relatados aos efeitos farmacológicos e respostas à substâncias e os efeitos desaparecem com o decorrer do tempo, até a recuperação completa, exceto quando há lesões teciduais ou outras complicações”
Resumindo, a intoxicação é causada se a substância química está em altas quantidades no organismo da pessoa, causando lesões e prejuízos a ela.
Quando uma pessoa utiliza indiscriminadamente um medicamento ela não está interessada na quantidade máxima que ela pode ingerir por dia, pois cada medicamento possui esta quantidade e ela é diferente para cada medicamento. E é nessa situação de ingerir a hora que ela bem entender que leva ao excesso desta substância no organismo, causando uma intoxicação.
Paracelso (1493 – 1541), já dizia que “nada é veneno, tudo é veneno. A diferença está na dose”. Com esta frase ele quis dizer que cada droga possui uma dose letal, correspondente à menor quantidade daquele mesmo fármaco utilizado para cura, que é capaz de matar o indivíduo. Assim, fica claro que a diferença entre a droga que cura e a que mata está na dose administrada.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), em 2003 os medicamentos foram responsáveis por 28,2% dos casos de intoxicação registrados no país.
Os analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios são os mais usados pela população sem o atendimento às recomendações médicas. Por isso, são também os que causam mais intoxicação.
Desenvolvimento de super bactérias
Vocês já ouviram falar em resistência bacteriana? Pois é, este é um termo muito utilizado atualmente já que isto é muito preocupante…
Resistência bacteriana é uma situação na qual um antibiótico (medicamento utilizado para combater bactérias) não consegue mais destruir ou ter uma ação efetiva sobre a bactéria, isto é, este antibiótico perde seu efeito perante a bactéria.
Pode acontecer que a bactéria já tenha esta resistência pelo medicamento, por isso existe antibióticos específicos para a bactéria.
Mas, a principal causa do desenvolvimento da resistência bacteriana é o uso indiscriminado dos antibióticos, que em tempo atrás eram vendidos sem controle algum.
Mas como isso pode ocorrer?
Pense assim, se constantemente o indivíduo utiliza um antibiótico inadequado, as bactérias presentes no organismo dele estão entrando em contato com o antibiótico e, ao mesmo tempo que este medicamento não consegue destruir esta bactéria, ela começa a modificar seu organismo de forma que impeça que aquele antibiótico a atinja. E pior, ela começa a se multiplicar, e as “bactérias-filhas” também serão resistentes.
Esta bactéria será passada para outras pessoas, e se estas pessoas administrarem este antibiótico também não adiantará nada.
Um exemplo de uso indiscriminado é quando o médico prescreve o antibiótico por 15 dias… E, no décimo dia os sintomas já estão melhores… O que a pessoa faz??? Para de tomar o antibiótico!!!
Aqui devo salientar que os sintomas desapareceram… Mas tenho a certeza de que não existe mais nenhuma bactéria que causava aqueles sintomas??? Se sobrar alguma, esta já entrou em contato com aquele antibiótico e pode ter desenvolvido resistência…
Outro exemplo de uso indiscriminado é quando o vizinho teve uma infecção e tomou certo antibiótico e melhorou… Que ótimo, vou tomar também, pois assim não preciso ir ao médico!!!
Aí eu pergunto: Você sabe se a bactéria dele é do mesmo tipo que está causando a sua infecção??? Se não for e você está tomando o antibiótico errado, pode ser que a bactéria torne-se resistente aquele antibiótico…
E, nessas situações onde muitas pessoas utilizam os antibióticos indiscriminadamente é que surgiu a bactéria super-resistente, onde não há antibiótico que possa combate-la. E, este é o motivo do controle da venda de antibióticos nas farmácias e drogarias.
Efeitos adversos
Efeitos adversos são efeitos indesejáveis que os medicamentos podem causar, mesmo na dose recomendada para conseguir o efeito desejável.
Entretanto, alguns efeitos adversos são perigosos e desconhecidos da população, já que na maioria das vezes são medicamentos vendidos livremente nas farmácias e drogarias.
Por exemplo, analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios (ácido acetilsalicílico, dipirona, paracetamol, diclofenaco, ibuprofeno…), os quais estão no topo da utilização indiscriminada, podem causar hemorragias, gastrite, úlcera, lesão hepática, insuficiência renal e problemas cardíacos. São efeitos que as pessoas não associam ao seu uso e, qualquer coisa já tomam estes medicamentos.
Neste caso, se uma pessoa toma estes medicamentos constantemente e tem um ferimento grave, pode ser que o sangramento torne-se uma hemorragia.
Ou quando uma pessoa vai fazer uma cirurgia, o médico pede para suspender o uso destas substâncias, pois poderá acontecer uma hemorragia durante o procedimento.
Portanto, as drogas que achamos serem as mais inofensivas são as que mais prejudicam…
Interações medicamentosas
Interação medicamentosa é quando um medicamento interfere no efeito de outro medicamento quando administrados concomitantemente. Isto é, quando o medicamento é administrado na presença de outro pode ser que o seu efeito seja alterado, podem surgir outros efeitos prejudiciais, pode fazer com que seu efeito seja aumentado, produzindo uma intoxicação ou pode ser que seu efeito seja anulado.
Um exemplo de interação medicamentosa é o uso de antibióticos juntamente com álcool. Nesta situação o álcool diminui o efeito dos antibióticos, podendo levar ao aparecimento da resistência bacteriana.
O uso de anticoncepcionais com determinados antibióticos faz com que estes anticoncepcionais diminuam o seu efeito, podendo levar a uma gravidez indesejada.
O outro exemplo é o uso da cimetidina (protetor gástrico) juntamente com a varfarina (anticoagulante), fenitoína (anticonvulsivante), teofilina (broncodilatador) e carbamazepina (antipsicótico e anticonvulsivante). A cimetidina pode aumentar os efeitos destes outros medicamentos podendo causar intoxicação.
Estes são somente exemplos de interações medicamentosas… Existe um leque imenso delas…
Por isso, antes de utilizar medicamentos juntos, consulte sempre um profissional da saúde.
Baseando-se no exposto acima, onde vimos os perigos do uso indiscriminado dos medicamentos, vamos somar ao fato deste uso ser feito por pessoas da terceira idade, onde o funcionamento do organismo está alterado… E, este é um fator que irá somar aos prejuízos causados…
Para saber mais, leia as matérias:
– Farmacologia e envelhecimento – parte I
– Farmacologia e envelhecimento – parte II
– Cuidados no uso de medicamentos