O uso de anfetaminas está aumentando em todo mundo.
Embora, os efeitos colaterais da droga incluam aumento da frequência cardíaca, dor de cabeça, dor de estômago e mudanças de humor, pouco se sabe sobre o efeito da droga no coração.
Uma nova pesquisa, publicada na revista Heart Asia, relata que o uso de anfetaminas de forma recreativa pode acelerar o envelhecimento do coração.
As anfetaminas são estimulantes do sistema nervoso central (SNC), capazes de gerar quadros de euforia, provocar vigília, atuar como anorexígenos (perda da fome) e aumentar a atividade autossômica do usuário.
As anfetaminas são substâncias que foram sintetizadas na década de 30. O propósito de seu uso era o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, denominado hiperatividade ou disfunção cerebral mínima.
Atualmente, existem indicações para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, da narcolepsia e da obesidade com restrições.
Nos últimos 20 anos, as anfetaminas modificadas têm sido sintetizadas em laboratórios clandestinos para serem utilizadas com fins não médicos que incluem as seguintes substâncias denominadas ilícitas: a 3,4-metilenedioximetanfetamina – MDMA (Ecstasy); 4-metilaminorex (Ice) e o derivado metanafetamínico (Crystal).
A anfetamina de uso recreativo, conhecida popularmente como Ecstasy (MDMA), é um estimulante do sistema nervoso central (produz um quadro de euforia e bem-estar, sensação de intimidade e proximidade com os outros, anorexia, taquicardia, tensão maxilar, bruxismo e sudorese). A duração dos efeitos é 4 a 6 horas e o desenvolvimento de tolerância rápida impede o uso compulsivo e aditivo.
As anfetaminas agem na região do sistema nervoso responsável por acelerar a frequência cardíaca, constringir os vasos sanguíneos, aumentar a pressão arterial e produzir adrenalina, que é o hormônio responsável pela “luta ou fuga” em situações de estresse.
Sinais e sintomas do uso de anfetaminas
– Redução do sono e do apetite
– Aceleração do curso do pensamento
– Excesso de diálogo (verborragia)
– Agitação
– Euforia
– Irritabilidade
– Midríase
– Taquicardia
– Elevação da pressão arterial.
Dentre os efeitos mais importantes das anfetaminas no comportamento estão as alterações do humor, que podem ocorrer com o uso destas substâncias de forma eventual ou constante.
Uma das consequências do abuso crônico é o desenvolvimento de comportamentos patológicos.
O efeito da anfetamina na frequência cardíaca, nos vasos sanguíneos e na pressão arterial, causa um efeito estressante sobre o sistema cardiovascular ao longo do tempo.
Sabe-se que o uso prolongado de estimulantes provoca o envelhecimento prematuro da pele e, nessa linha alguns pesquisadores da Universidade da Austrália Ocidental (UWA) procuraram descobrir se o uso de anfetaminas exerce o mesmo efeito de forma prematura sobre o coração.
O estudo foi realizado pelo pesquisador Albert Stuart Reece, professor associado de medicina da UWA, e colaboradores.
A equipe mediu os níveis de fluxo sanguíneo através da artéria braquial na parte superior do braço, bem como a artéria radial no antebraço, de 713 voluntários que participaram da pesquisa.
Sabendo que as artérias endurecem normalmente à medida que o corpo envelhece, os pesquisadores objetivaram avaliar o grau de rigidez da artéria para determinar como o coração estaria envelhecendo nessa população.
Os participantes tinham idades entre 30 e 40 anos e eram internos de uma clínica para tratamento de usuários de drogas.
A equipe usou um manguito de pressão arterial padrão no braço superior dos participantes e um sistema de monitoramento não invasivo, chamado SphygmoCor, no antebraço dos mesmos para coletar dados.
SphygmoCor usa um software que pode calcular a idade vascular biológica de uma pessoa, combinando a idade, sexo e altura de um indivíduo com a extensão de rigidez arterial.
Os participantes foram divididos em quatro grupos dependentes do uso de drogas. Havia 483 pessoas que eram dependentes de diversos tipos de rogas, 107 pessoas fumantes, 68 pessoas usuárias de metadona e 55 usuários de anfetamina.
Os usuários foram monitorados 66 vezescom o SphygmoCor, e 94% dos indivíduos que tinham usado anfetaminas na semana anterior, e quase metade das pessoas no grupo tinha usado no dia anterior demonstraram que em comparação com as pessoas que fumavam e usavam metadona, o sistema cardiovascular dos usuários de anfetaminas parecia estar envelhecendo a uma taxa muito mais rápida que o restante da amostra.
Estes resultados permaneceram significativos quando foram considerados outros fatores de risco cardiovascular conhecidos – tais como peso, níveis de colesterol e o indicador de inflamação (proteína C reativa).
Como a exposição à anfetamina é muitas vezes repetitiva e prolongada, o coração é exposto aos efeitos do estimulante em um comportamento crônico, e a longo prazo.
Para o pesquisador, é concebível que abusadores de drogas estimulantes sofram danos psíquicos e físicos. No entanto, não está claro até que ponto o dano pode ser reversível.
Os autores dizem que os resultados confirmam suas preocupações de que o abuso de anfetaminas aumenta a idade do coração.
Entretanto, como o estudo é observacional, nenhuma conclusão definitiva pode ser tirada com relação à causa e efeito.
O processo de envelhecimento causa um declínio funcional ao longo do tempo, como muitos processos fisiológicos começam a falhar ao longo do curso de uma vida progressivamente.
No entanto, as novas descobertas sugerem que o abuso de estimulantes pode acelerar a degeneração dos sistemas fisiológicos.
A equipe aponta para outras pesquisas, para uma possível explicação para suas descobertas.
A pesquisa mostrou que o uso de anfetamina interfere com o funcionamento das células estaminais e na divisão celular normal.
Assim, as anfetaminas podem impedir o reparo tecidual e aumentar a lesão tecidual, concluem os autores.
Fonte:
http://www.medicalnewstoday.com/articles/315786.php
BELO, Mariana Micaela Tiago. Anfetaminas: da saúde à ilicitude. 2015. Dissertação de Mestrado.
Crédito da Imagem:
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