Hoje, me peguei pensando, como foi bom ter nascido na década de 60. Vem-me a lembrança do meu lindo pai de brilhantina em seus cabelos pretos sedosos, da minha mãe que parecia uma princesa de pele macia. Brincava com meu irmão meu melhor amigo – às vezes inimigo (de vez em quando saia briga) a cumplicidade que tínhamos com o outro e a parceria. Minha bisavó tão protetora que nos acolhia quando a mãe brigava e a gente se escondia atrás da saia dela.
Lembro-me das brincadeiras de pega-pega, queimada, pular corda, andar de carrinho de rolimã, de patins e empinar pipa (sem medo de perder um dedo, pois a linha era de costura) dos bailinhos de final de semana na casa dos amigos ou na casa de nossos pais.
Ah….. os bailinhos, a primeira paixão sempre começava ali. Íamos de cabelo arrumado, roupa de festa (ou de sair como dizia minha mãe) e ficávamos olhando os casais dançando e torcendo para que nosso paquera (hoje é crush) nos tirasse pra dançar. Quando acontecia eu ia as nuvens, sentir sua mão tocando minhas costas e sua respiração morna no meu pescoço, me fazia sonhar. Viajava para bem distante onde eu seria a donzela e ele cavaleiro, que eu não temeria nada, pois ele estaria perto e nesse devaneio tocando Bee Gees, How Deep Is Your Love – Quão profundo é o seu amor e começava assim :
Conheço seus olhos num sol da manhã
Sinto que me toca numa pesada chuva
E no momento que você vaga pra longe de mim
Eu quero sentir você em meus braços novamente
Essa música que me fez dançar muito agarradinha.
Ou aquela em que eu derretia igual gelatina nos braços do garoto quando ouvia: era do KC and Sushine Band – Please Don’t Go – Por favor não vá – Que começava assim:
Querida, Eu te amo tanto
Eu quero que você saiba
Que eu sentirei falta do seu amor
No Momento que você passar por aquela porta
Então Por favor não vá
Não vá
Não vá embora
Por favor não vá
Não vá
Eu estou implorando pra você ficar
Essas recordações me fazem voltar a um tempo que não existe mais, ou talvez sim, acho que sim nas minhas memórias. Me pego pensando, como agora estou, no que vivi e aprendi. A humildade de nossa casa, meu pai trabalhador sempre preocupado com a família. No dia de pagamento chegava em casa com a sacola cheia de chocolates, iogurtes e refrigerantes, minha mãe colocava nossa roupa de sair e íamos comer pizza. Eu contava os dias para sair de novo e jantar com meus pais. Nas férias íamos viajar, meu pai, tinha uma barraca super equipada e no Camping não faltava nada, tinha o mar, o sol, e o amor de nossa família.
E aí o tempo passou, cresci, me casei, tive filhos e o mundo se transformou. As pessoas se transformaram, a família, o bailinho, a escola, os amigos que agora são na maioria virtuais, assim como os namoros (eu prefiro os reais) e vamos nos adaptando. Mas que bom que existem as lembranças, e de vez em quando me pego sorrindo, e do nada recordando, aquele carrinho de rolimã, dos cabelos do meu pai, do cheiro bom da minha mãe e daquele bailinho onde a respiração da pessoa amada me fazia subir nas nuvens.
Peraí…. que caiu um cisco no meu olho, e uma lágrima teima em brotar, destes olhos um pouco cansados, será que envelheci? E agora?
As músicas citadas neste post se você quiser recordar: