A saúde bucal é um indicador importante da nossa saúde geral.
A boca não serve somente para comer, beber, sentir gosto, respirar, comunicação verbal e não-verbal. A saliva tem propriedades antibacterianas, fazendo parte da defesa do corpo contra infecções.
Dentes saudáveis são essenciais para mastigação e deglutição eficazes e, portanto, para uma boa nutrição.
Nossos dentes são mostrados as outras pessoas quando sorrimos. E, para muitos de nós, é importante para a confiança e auto-estima, sentirmos que nossos dentes parecem aceitáveis socialmente.
Depois de muitos anos comendo, bebendo, mastigando e escovando, alguma depreciação dos dentes com a idade, é natural.
Com a idade, os músculos faciais vão perdendo a força e se tornam mais frágeis, e a capacidade de alongamento das gengivas é perdida.
Dentes tornam-se fracos e frágeis, e o recuo das gengivas faz com que os dentes fiquem suscetíveis a doenças periodontais.
Os idosos são, muitas vezes, incapazes de cuidar adequadamente de seus dentes devido à fraqueza geral ou problemas, como a artrite, tornando difícil ficar por muito tempo na frente da pia, escovando e passando fio dental nos dentes.
Bactérias na cavidade oral podem se aderirem a película do dente formando uma “placa” incolor sobre os dentes.
Esta placa, que não é removida por escovação e fio dental, endurece e forma “cálculo”.
A remoção, por simples escovação, deste cálculo é difícil, e requer limpeza profissional por um dentista.
Às vezes, os idosos são relutantes ou incapazes de dizer ao seu dentista seus problemas. Eles podem até mesmo ignorar problemas dentários por causa de outros problemas de saúde mais exigentes.
Nesses casos, é essencial que os membros da família prestem atenção aos sintomas.
A perda de dentes significa dificuldade em comer, levando à falta de nutrição.
Problemas dentários não tratados podem levar a certas doenças, especialmente nas pessoas idosas. O inverso também é verdadeiro devido ao sistema imune prejudicado nos idosos.
Doenças sistêmicas como diabetes, leucemia, câncer, coração e doenças renais são todos interligados com problemas dentários.
Epidemiologia
Segundo expectativas, em 2040, cerca de 14% da população mundial, ou quase 1,3 bilhão de pessoas, terá 65 anos ou mais.
Tal mudança demográfica coloca preocupações urgentes para os cuidados de saúde com uma população cada vez mais madura, que pode levar consigo uma série de problemas de saúde, incluindo doenças crônicas.
Diminuição da saúde oral também tende a ser comum entre os idosos, e este é um problema que merece atenção.
As taxas de preservação dentária variam de 6% a 78% em todo o mundo, mas nos países industrializados um número cada vez maior de idosos retém um número crescente de seus dentes.
Para uma dentição normal, um mínimo de 20 dentes tem sido sugerido desde a década de 1980.
Foi adotado, como um objetivo pela Organização Mundial da Saúde, que mais de 50% das pessoas com 65 anos ou mais possuem pelo menos 20 dentes em funcionamento.
Tal objetivo foi alcançado no Reino Unido. Do um estudo dentário utilizando pessoas com 65-74 anos no Reino Unido, 74% relatam visitas ao dentista no prazo de um ano.
Em uma pesquisa da Age Concern, pouco mais de metade dos entrevistados disseram que faziam visitas periódicas a um dentista. Isto diminuiu ainda mais com a idade e variou consideravelmente entre as regiões pesquisadas.
Em 2009, 23% das pessoas com mais de 65 anos não tinham dentes naturais.
Durante os 24 meses anteriores a 31 de março de 2008, apenas 53,3% da população total da Inglaterra fez consulta a um dentista.
Alterações orais relacionadas à idade
A medida que uma pessoa envelhece, os dentes mostram sinais de desgaste, as gengivas recuam e a mucosa oral torna-se mais áspera e seca.
A polpa da raiz do dente torna-se menor com a idade e, consequentemente, incapaz de fornecer a sustentação suficiente aos nervos e aos vasos sanguíneos, fazendo com que os dentes fiquem mais frágeis.
Os dentes também se tornam frágeis devido à nutrição insuficiente, fazendo com que se rompam facilmente.
Com o envelhecimento, a aparência e a estrutura dos dentes tendem a mudar.
Alterações na pigmentação, como amarelar ou escurecer os dentes, são causadas por alterações na espessura e composição da dentina e na sua cobertura, o esmalte.
A abrasão e o atrito também contribuem para mudanças na aparência dos dentes.
O número de vasos sanguíneos que irrigam o dente e o esmalte diminuem com a idade, levando a uma sensibilidade reduzida.
Com sensibilidade reduzida aos estímulos ambientais, a resposta à cárie ou ao trauma pode diminuir.
O cemento (substância que cobre a superfície da raiz do dente), gradualmente, fica mais espesso, com a largura total quase triplicando entre 10 e 75 anos de idade.
Como o cemento é altamente orgânico, é menos resistente a agentes ambientais, como açúcar, ácidos de refrigerantes e tabaco, fazendo com que apresente um efeito de “raiz seca”.
Alterações relacionadas à idade na mucosa oral e deficiências nutricionais ou hormonais, levam a diminuição da queratinização, secura e adelgaçamento das estruturas epiteliais.
Adicionalmente, a largura e o teor de fibra do ligamento periodontal, que é uma parte do aparelho de ligação do periodonto, diminui com o envelhecimento.
A diminuição da gengiva é outra condição comum em pessoas idosas, mas não é considerada uma alteração oral normal dependente da idade. E, esta diminuição expõe o cemento, predispondo à cárie na raiz do dente.
As glândulas salivares produzem menos saliva com a idade mais avançada, o que provoca secura da boca e dificuldade em mastigar, muitas vezes como resultado de medicações.
Problemas orais especiais
Doenças crônicas comuns de idosos, como diabetes, doenças cardiovasculares, doenças hepáticas e doenças gastrointestinais têm seus efeitos sobre a cavidade oral.
Muitos pacientes idosos estão sob o tratamento para várias circunstâncias tais como doenças cardiovasculares, hipertensão, depressão, desordens gástricas, dentre outras.
Vários medicamentos utilizados para estas circunstâncias têm efeitos colaterais nos dentes, nas raízes dos dentes e nos outros tecidos da boca (por exemplo, secura da boca como resultado de alguns fármacos antidepressivos).
O amadurecimento também pode trazer alterações no metabolismo das drogas que podem ter seus efeitos colaterais orais, como alterações no paladar, ulcerações orais, sangramento gengival, etc.
Pacientes idosos psiquiátricos apresentam maior prevalência de edentulismo (ausência parcial ou total dos dentes) quando comparado a população geral do respectivo grupo etário. Com isso, é produzida uma higiene oral relativamente fraca e uma maior incidência de cárie dentária.
As pessoas mais maduras podem ter dificuldade em gerenciar seus próprios cuidados bucais devido a problemas com destreza, além de não poderem dizer ao cuidador quando estão com dor.
Além disso, portadores de próteses estão em maior risco de candidíase atrófica crônica (estomatite dentária).
Deterioração da memória, comportamento de ansiedade, distúrbios do sono, depressão e desorientação são algumas condições que precisam ser consideradas quando o tratamento odontológico for planejado.
Os pacientes com condições médicas crônicas e incapacitantes (por exemplo, artrite, comprometimento neurológico) podem se beneficiar de dispositivos para o auxílio à saúde bucal, como escovas de dentes elétricas, escovas de dentes manuais com alças largas e dispositivos de retenção de fio dental.
As pessoas idosas em cuidados residenciais apresentam 80% a mais de risco de infecção oral.
Doenças orais comuns que afetam as pessoas maduras
Um número crescente de idosos tem alguns ou todos os seus dentes intactos por causa de melhorias nos cuidados de saúde bucal, como a fluoretação da água da comunidade, avançada tecnologia dentária e melhor higiene bucal.
Esta crescente população está em risco de doenças crônicas da boca, incluindo infecções dentárias (por exemplo, cárie, periodontite), perda de dentes, lesões nas mucosas benignas e câncer bucal.
Cáries dentárias
Cárie dentária pode ocorrer em qualquer idade. No entanto, devido à recessão gengival e à periodontite, as pessoas idosas correm maior risco de desenvolver cáries radiculares.
A incidência de cárie radicular em pacientes com mais de 60 anos é o dobro da de 30 anos, 64% das pessoas com mais de 80 anos têm cárie na raiz do dente, e até 96% têm cárie coronária (acima da gengiva).
Apesar da tendência geral de declínio na ocorrência de cáries entre adultos nos países industrializados, a cárie ainda é um problema de saúde pública, particularmente nos países menos desenvolvidos e em grupos desfavorecidos, como os idosos.
Cárie dentária é uma grande ameaça para a perda dentária em idosos, representando até 60% das extrações.
Os fatores de risco para a cárie coronária e radicular levam a uma maior exposição a bactérias cariogénicas, tais como Streptococcus mutans, Lactobacillus e Actinomyces.
A cárie é uma doença multifatorial com importantes fatores de risco nos idosos, que podemos citar: carboidratos fermentáveis, placa (especialmente na presença de restaurações e próteses), diminuição da destreza, diminuição da secreção salivar e uso de medicamentos.
Outras condições orais
Como os pacientes mais maduros são mais propensos a visitar um médico do que um dentista, os médicos de cuidados primários têm a oportunidade de melhorar a saúde bucal nessa população, avaliando o risco de saúde bucal, identificando e tratando as condições orais comuns e encaminhando pacientes a um dentista, se necessário.
Odontologia geriátrica ou gerodôntica é a prestação de cuidados dentários para idosos. Envolve o diagnóstico, prevenção e tratamento de problemas associados ao envelhecimento normal e doenças orais relacionadas à idade.
Odontologia geriátrica é uma ciência que é uma abordagem multidisciplinar e multidimensional para a gestão dos problemas de saúde bucal dos idosos.
Avaliação da saúde bucal
Uma lista de verificação abreviada da história dos pacientes e que pode ser preenchida no consultório médico ou em casa pode ajudar os médicos a avaliarem o risco de saúde oral.
No exame em uma boca saudável, a mucosa oral e a língua devem ser cor-de-rosa e úmida, com as bordas lisas e úmidas, e dentes limpos ou dentaduras bem-cuidadas e corretamente colocadas.
Vários instrumentos de avaliação foram propostos, mas a evidência é limitada em seu efeito.
A capacidade de avaliar a deglutição é um resultado necessário no grupo de habilidades essenciais de enfermagem para a nutrição e a vinculação da avaliação oral a isso proporcionaria um modelo holístico de cuidado.
Existem também ferramentas de triagem que podem ser administradas por profissionais não-odontológicos, incluindo em uma instituição de cuidados residenciais.
Uma ferramenta de triagem dental simples, válida e confiável é The Oral Health Assessment Tool.
Os únicos materiais necessários para realizar a avaliação são uma lanterna, luvas e uma lâmina.
Oito categorias de saúde bucal são marcadas como saudáveis, alteradas ou insalubres para ajudar a determinar os próximos passos no cuidado do paciente.
Usando estas ferramentas, profissionais de saúde não-odontológicos, como médicos e enfermeiros, podem reconhecer e identificar problemas de saúde oral, para que os pacientes possam ser encaminhados para acompanhamento necessário com o cirurgião-dentista.
Maior atenção por parte dos profissionais de saúde para o estado de saúde bucal de idosos pode reduzir a prevalência de câncer bucal na população adulta mais madura.
A detecção precoce e o encaminhamento para tratamento de câncer bucal são passos críticos que afetam o sucesso do tratamento e as taxas de sobrevivência.
Esta é uma preocupação específica na maioria dos países em desenvolvimento, onde o acesso aos serviços de saúde, aos serviços de saúde primários e ao pessoal de saúde são limitados.
Os médicos e outros profissionais de saúde vêem seus pacientes idosos com mais frequência do que os profissionais de saúde bucal, sugerindo que outros profissionais de saúde poderiam auxiliar os idosos com informações relevantes para apoiá-los em auto-cuidado oral.
Relação entre saúde oral e a saúde geral
Saúde bucal é uma parte integral e importante da saúde geral, mas muitas vezes é negligenciada devido a equívocos prevalecentes que incluem uma apatia geral para a saúde bucal, uma vez que muitas condições que afetam a cavidade oral são não consideradas como “ameaçadoras da vida”.
Portanto, enquanto idosos estão dispostos a fazerem as checagens anuais da pressão arterial, açúcar no sangue, altura e peso; deveria acontecer o mesmo interesse para exames odontológicos periódicos.
Um dos avanços do século 21 tem sido o reconhecimento da saúde bucal como parte essencial e integral da saúde sistêmica.
Evidências crescentes ligaram a saúde bucal com a saúde geral, sugerindo uma relação entre doença periodontal com diabetes, doenças cardiovasculares, pneumonia, doenças reumatológicas e deficiência na cicatrização de feridas.
A estreita associação entre doença periodontal e diabetes está bem documentada na revisão da literatura. Ainda, cada vez mais, estão surgindo evidências de uma estreita associação entre doença periodontal e doença cardiovascular.
Cuidados orais inadequados podem ser prejudiciais ao bem-estar social e emocional e afetar negativamente a interação com as outras pessoas.
A má saúde bucal é, frequentemente, associada com menor poder econômico; falta de seguro odontológico; estar em casa ou institucionalizado; e a presença de deficiências físicas que limitam a boa higiene bucal, como artrite e comprometimento neurológico.
Conclusão
À medida que continuamos a viver mais tempo, a necessidade de cuidados bucais adequados é vital para manter os dentes naturais e melhorar a qualidade de vida.
Condições como dor de dente, perda de dentes e boca seca acontecem naturalmente com a idade, mas a maioria destas condições resultam de doenças dentárias, como doença periodontal, cárie dentária ou efeitos colaterais de medicamentos.
Nós podemos manter nossos dentes por mais tempo mantendo boa saúde oral.
A saúde bucal é parte integrante da saúde geral e bem-estar de um indivíduo. O estado de saúde bucal nos idosos reflete resultados cumulativos do comportamento de saúde bucal, doenças e seus tratamentos durante a vida de uma pessoa.
Hoje em dia é cada vez mais comum que os idosos retenham a maioria dos seus dentes, apresentando um desafio para os profissionais de saúde em manter a dentição para uma vida inteira.
O médico pode identificar sinais precoces de doenças orais e alertar seus pacientes idosos a procurarem maior acompanhamento com os seus profissionais de odontologia.
Os enfermeiros podem reconhecer e identificar estados precários de saúde bucal e encaminhar o paciente para um cirurgião-dentista ou terapeuta de saúde oral, para posterior manejo.
O encaminhamento precoce para um cirurgião-dentista ou um terapeuta de saúde bucal (por exemplo, higienista dental, terapeuta dentário) pode melhorar a qualidade de vida global do paciente.
Fonte:
https://www.gmjournal.co.uk/oral_health_in_the_older_patient_25769809223.aspx
Crédito das imagens:
<a href=”http://www.freepik.com/free-photos-vectors/bandeira”>Bandeira fotografia created by Kues1 – Freepik.com</a>
<a href=”http://www.freepik.com/free-photos-vectors/projeto”>Projeto vetore created by Freepik</a>