Podemos definir terapia antienvelhecimento como: “estratégias desenvolvidas para retardar, parar ou mesmo reverter os fenômenos relacionados ao envelhecimento, bem como aumentar a vida útil do indivíduo”.
Várias sociedades, em todo o mundo, afirmam ter desenvolvido estratégias contra doenças relacionadas com a idade, e também contra o processo de envelhecimento.
O envelhecimento bem sucedido é uma das necessidades mais importantes da nossa população em rápido crescimento. Atualmente, o número mundial de pessoas com idade maior que 60 anos e maior que 80 anos atinge 671 milhões e 80 milhões, respectivamente.
Espera-se que esses números cresçam rapidamente. Estimativas feitas pelas Perspectivas da População Mundial das Nações Unidas, na sua revisão de 2006 coloca o número mundial de pessoas com idade maior que 60 anos e maior que 80 anos em cerca de 2 bilhões e 400 milhões, respectivamente, em 2050.
Portanto, o aumento do número de pacientes que serão encaminhados para programas antienvelhecimento e geriátricos é algo que se espera.
Talvez a busca da eterna juventude permaneça “na ficção”. No entanto, a maioria dos programas e clínicas antienvelhecimento também procuram implementar estratégias para envelhecimento bem sucedido e prevenção de doenças. Ninguém poderia afirmar que o envelhecimento bem sucedido não é uma necessidade absoluta para nossas sociedades em envelhecimento.
Uma das práticas antienvelhecimento mais utilizada, atualmente, é a terapia de reposição hormonal (TRH). Isso se deve ao fato de que a produção hormonal é alterada pelo processo de envelhecimento.
Neste sentido, o envelhecimento da pele, bem como a diminuição da massa corporal magra, densidade mineral óssea (DMO), desejo sexual, função erétil, atividade intelectual e humor, estão relacionados a essa diminuição na produção hormonal com a idade.
Isso levou ao uso bastante amplo de suplementos hormonais para ajudar a reverter os efeitos do envelhecimento e melhorar a qualidade de vida.
Atualmente, tem sido muito divulgadas formas “naturais” para a reposição hormonal usando os Hormônios Bioidênticos.
As mulheres em todo o mundo estão sujeitas a uma crescente publicidade sobre o estradiol bioidêntico, o estriol de estrogênio menos potente e a progesterona bioidêntica.
O que são os Hormônios Bioidênticos?
Não existe uma definição padronizada para o termo “bioidêntico”. Eles devem ter a mesma estrutura molecular que os hormônios endógenos encontrados em seres humanos.
São, frequentemente, produzidos a partir de plantas (principalmente soja ou inhame) e são bioquimicamente alterados para serem idênticos aos hormônios encontrados no organismo.
E, por serem idênticos na sua forma molecular, acredita-se que eles produzam efeitos colaterais menores no organismo, quando comparado aos hormônios sintéticos e naturais.
Aqui, devemos nos ater as diferenças entre hormônio natural, sintético e bioidêntico:
– Hormônio natural: substância retirada da natureza que não passa por nenhum processo de transformação na indústria. Pode ser de origem vegetal, animal ou mineral.
– Hormônio sintético: substância que passou por um processo na indústria que produziu alterações na sua estrutura química.
– Hormônio bioidêntico: substância cuja estrutura química é, exatamente, igual aos hormônios produzidos pelo organismo, independente da fonte que é originada, podendo ser natural ou sintética.
Portanto, embora somente agora se fala muito em hormônio biodentico, há muito tempo ele já está sendo utilizado na clínica.
Hormonios bioidênticos disponíveis para comercialização
Com a finalidade de retornar aos níveis normais dos hormônios e impedir os efeitos indesejáveis que são produzidos pela sua diminuição, devido ao processo natural de envelhecimento, alguns hormônios bioidenticos estão disponíveis na clínica, que são:
1- Testosterona masculina e feminina
No homem, a redução da testosterona causa efeito indesejáveis, tais como a perda da massa muscular, diminuição da libido e da ereção, ganho de gordura corporal, depressão e risco de doenças cardiovasculares.
Na mulher, a diminuição deste hormonio afeta o desejo sexual, massa muscular e gordura corporal.
2- Progesterona
A progesterona atua em todo o organismo da mulher.
As funções normais da progesterona são: diurética, previne osteoporose, controla o ciclo menstrual, a gravidez e a formação do embrião. Além disso, gera um estado emocional e mental mais relaxados.
3- Estrogênios
A diminuição de estrogênios durante a menopausa induz uma série de efeitos indesejáveis, tais como redistribuição da gordura corporal, osteoporose, ofuscamento do brilho da pele, diminuição da libido e da lubrificação vaginal, falhas de memória, depressão e ondas de calor.
Novos estudos têm apontado que o estrogênio produzido naturalmente pelo organismo é um neuroprotetor.
4- Melatonina
A melatonina começa a diminuir a partir dos 20 anos de idade, mais ou menos. Devido a isso, surgem algumas complicações como a insônia e o envelhecimento precoce.
5- Cortisol
Em níveis normais no organismo, este hormônio controla a liberação da adrenalina, grau de inflamação e as atitudes do individuo mediante situações estressantes, sendo chamado de “hormônio do estresse”.
Assim, a diminuição dos níveis de cortisol produz sintomas como fadiga, inflamação, hipotensão e depressão.
6- Dehidroepiandrosterona (DHEA)
O DHEA é responsável pela produção de outros hormônios importantes, como o cortisol).
Suas ações incluem a melhora da função imune, do humor, da função cognitiva e da energia do individuo.
7- Hormônio do Crescimento (GH)
Quando este hormônio diminui nos adultos pode prejudicar a qualidade de vida destas pessoas. Este fato se deve ao aparecimento de baixa autoestima, cansaço, menor resistência a atividades físicas, depressão, aumento da gordura corporal e osteopenia (diminuição da massa óssea causada pela perda de cálcio, podendo causar a osteoporose).
Pesquisas recentes demonstram que este hormônio pode reverter determinados aspectos ligados ao envelhecimento.
8- Hormônios da Tireoide (Tiroxina e Tri-iodotironina)
A diminuição destes hormonios provoca elevação do LDL (colesterol ruim) e da gordura corporal, diminuição da energia, frio nas extremidades do organismo e diminuição da memória.
9- Pregnenolona
Este hormônio tem sido relacionado com o processo de memória, pois ele funciona como um neurotransmissor, além de estimular a neurogênese (processos de formação de novos neurônios no sistema nervoso central).
A sua diminuição no organismo começa após os 30 anos de idade.
Questões a serem abordadas quanto ao uso dos hormônios bioidênticos
– Embora existam evidências de que as vias de administração destes hormônios são viáveis, há poucas evidências de que os hormônios administrados por tais vias sejam capazes de atingir níveis fisiológicos suficientes para produzirem os seus efeitos.
– A progesterona é muito rapidamente degradada no intestino humano, fígado e sangue. Devido a isso, é sido difícil utilizar este hormônio via oral para manter um nível deste hormônio suficiente para inibir a hiperplasia ou prevenir câncer no endométrio.
– A progesterona pode ser absorvida através da pele, mas a quantidade que circula no sangue é insuficiente para ter qualquer efeito sobre as células endometriais. Há evidencias de que a progesterona possa ser absorvida através do epitélio vaginal e através da mucosa bucal. Mas, ainda são necessários estudos para confirmar que a quantidade absorvida por estas vias possam ter um efeito protetor no endométrio.
– Os compostos de estrogênio, às vezes, são combinados com testosterona, DHEA, hormônio do crescimento, tiroxina e melatonina. Muitas dessas substâncias são medicamentos prescritos, e necessitam de uma consulta cuidadosa com um médico. Se forem utilizados de forma inadequada, aumentam o risco de câncer e outros agravos.
– Os hormônios, geralmente, são vendidos diretamente ao público via internet ou através de laboratórios. Se não houver consulta médica, os problemas de segurança podem não ser abordados e podem ocorrer problemas sérios de saúde.
– Estes hormônios não foram submetidos a estudos científicos rigorosos e que são necessários para produzir provas confiáveis de que eles funcionam e são seguros. Por exemplo, a pesquisa mostra que a DHEA não é eficaz para tratar a menopausa. Além disso, a DHEA só é recomendada para pacientes que tenham uma condição grave que afete as glândulas supra-renais, chamada doença de Addison.
– Alguns desses produtos contêm concentrações muito alta de hormônios, tornando-os inseguros para o seu uso pelas pessoas, dentre estes perigos, devemos ressaltar o desenvolvimento de câncer.
– A reposição com hormônios bioidênticos é “adaptada” às necessidades das mulheres com base nos níveis hormonais obtidos por testes em sua saliva. No entanto, não existem provas científicas adequadas que afirmem que os níveis destes hormônios na saliva se relacionem exatamente com os níveis destes hormônios no sangue ou com os sintomas da menopausa. Recomenda-se que a TRH seja adaptada às necessidades das mulheres de acordo com seus sintomas, e não com níveis de hormônios no sangue ou na saliva.
– Muitas vezes, a terapia hormonal bioidêntica é muito mais cara do que a TRH tradicional.
Devemos ter em mente que o declínio do nível hormonal é parte natural do envelhecimento.
Ainda não está claro se este declínio deve ser considerado como uma reação fisiológica do corpo ao envelhecimento e, portanto, uma parte do envelhecimento “normal” ou “saudável”; ou se o tratamento com estes hormonios ajudaria a prevenir e tratar as condições relacionadas com a idade.
Acredita-se, firmemente, que os hormônios devem ser parte dos cuidados geriátricos.
No entanto, contrariar os efeitos do envelhecimento é muito perigoso, e está sujeito a confusão que não pode ser uma base para um tratamento.
Estudos em larga escala são necessários para definir melhor as indicações e modalidades de tratamento no envelhecimento e nas pessoas maduras.
Assim, avaliações aprofundadas das necessidades hormonais e planos de acompanhamento precisos devem ser elaborados para a prática clínica diária.
Finalmente, uma vez que a suplementação hormonal está instalada, o tratamento pode durar anos ou décadas. A segurança destes tratamentos hormonais a longo prazo, também, devem ser uma questão de estudo.
Leia a primeira parte deste post: O papel dos hormônios na manutenção da saúde
Fonte:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4116364/
https://www.menopause.org.au/hp/information-sheets/212-bioidentical-hormones-for-menopausal-symptoms
Crédito da Imagem:
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